terça-feira, 20 de abril de 2010

Ainda ontem

Ainda ontem, sim foi ontem, pois lembro-me muito bem… corria velozmente, sem saber bem onde querer ir… saltava alto, tão alto que até o céu me pedia sossego… largava mil vezes o sorriso por pensar ser inesgotável. Achava-me capaz de tudo. Ainda ontem o céu era azul, e o mar apenas o seu reflexo. Ainda ontem em sonhos via, muitas vezes, tanta coisa. Hoje continuo a correr, embora ciente dos riscos. Hoje salto mais baixo pois não me sinto digna de chegar ao céu. Hoje sei que o sorriso é inesgotável, mas ninguém deve ousar usá-lo como ontem o fazia eu. Hoje não sou capaz de tudo pois o tudo superou-me e tornou-se maior que eu. Hoje o céu é de uma cor que ninguém ainda conseguiu descobrir, e o mar, já não é mais reflexo de nada, a não ser do seu imenso ego.
Ainda ontem tudo sabia, e hoje nada sei. Hoje… quanto mais me tentam ensinar, menos eu quero aprender, quanto mais anseiam ouvir a minha voz, menos vontade tenho de falar, quanto mais o tempo passa, menos eu quero que ele passe, quanto mais me afasto do ontem, mais desejo que o tempo fosse relativo às minhas expectativas. E hoje sei também, que esse tudo era no fim de contas tão pouco e nos sonhos via tudo aquilo que a vida me tentara privar. O mundo é incógnito, e eu morro de curiosidade de o decifrar.