Ainda ontem, sim foi ontem, pois lembro-me muito bem… corria velozmente, sem saber bem onde querer ir… saltava alto, tão alto que até o céu me pedia sossego… largava mil vezes o sorriso por pensar ser inesgotável. Achava-me capaz de tudo. Ainda ontem o céu era azul, e o mar apenas o seu reflexo. Ainda ontem em sonhos via, muitas vezes, tanta coisa. Hoje continuo a correr, embora ciente dos riscos. Hoje salto mais baixo pois não me sinto digna de chegar ao céu. Hoje sei que o sorriso é inesgotável, mas ninguém deve ousar usá-lo como ontem o fazia eu. Hoje não sou capaz de tudo pois o tudo superou-me e tornou-se maior que eu. Hoje o céu é de uma cor que ninguém ainda conseguiu descobrir, e o mar, já não é mais reflexo de nada, a não ser do seu imenso ego.
Ainda ontem tudo sabia, e hoje nada sei. Hoje… quanto mais me tentam ensinar, menos eu quero aprender, quanto mais anseiam ouvir a minha voz, menos vontade tenho de falar, quanto mais o tempo passa, menos eu quero que ele passe, quanto mais me afasto do ontem, mais desejo que o tempo fosse relativo às minhas expectativas. E hoje sei também, que esse tudo era no fim de contas tão pouco e nos sonhos via tudo aquilo que a vida me tentara privar. O mundo é incógnito, e eu morro de curiosidade de o decifrar.
Mantiveste-me segura ao som da noite
Fizeste uma vida
E fizeste um lar
Fizeste tudo isto sozinho
Deve ter sido difícil mas sempre conseguiste
E quando eu não conseguia dormir
Com medo das coisas não correrem como queríamos
Tu estavas lá para me aconchegar
Ainda não posso sair do meu casulo, mas posso sempre sonhar
Posso sonhar com o dia em que voarei mais alto
E quando chegar esse dia olharei para trás
E pensarei que só cheguei onde cheguei graças a ti
Agora, ainda lagarta, sonho com esse dia em que me tornarei borboleta e lutarei para ser tal e qual como tu!
Até sempre Cabo-Verde
